Continuamos em uma fascinante jornada através das crônicas produzidas por Fê Pandolfi. Uma verdadeira viagem literária que nutre a alma.

 

Esta é a quarta crônica de uma coleção que promete enriquecer nossas mentes e corações. Mensalmente, mergulharemos em novas crônicas que se somarão a essa coleção, tecendo um volume de experiências e reflexões. 

 

Prepare-se para embarcar nessa emocionante aventura, onde as palavras se entrelaçam para nos fazer viajar, sentir e explorar o mundo através das lentes sensíveis de Fê Pandolfi.

Conheça Fernanda Pandolfi

Crônica escrita por Fernanda Pandolfi. A escritora e jornalista já viajou para 63 países e em 2017 fez a volta ao mundo, que rendeu o livro "Quem é a Estrada". Atualmente, é cronista na Revista Persona, professora de transmedia e storytelling da ESPM-RS, está à frente da FP Ideação em Mídias Sociais e do projeto Ida e Volta.
Crônica IV                                                                                                                                                               19 de Novembro 2023

Ler para viajar

Eu descobri o jornalismo em um livro. Pode parecer curioso que uma marmanja de 12 anos não tivesse conhecimento sobre uma profissão que, na década de 90, entrava diariamente na casa de gente por todos os meios de comunicação. Lembro de fechar a última página de “O Céu está Caindo”, de Sidney Sheldon, e pensar algo como “taí, quero ser Dana Evans” - a jornalista investigativa e empoderada do suspense. Conecto o caso de não ter cogitado antes o canudo jornalístico como chave para uma carreira a três fatores: morar em uma cidade no interior do Rio Grande do Sul que não tinha faculdade de jornalismo à época, o que me levava a pensar nas opções humanas mais óbvias, como o Direito; não conviver com pessoas da área que pudessem me estimular à ocupação; e à inexistência do Google.


A carreira que decidi seguir e que me completa em felicidade e realização apareceu para mim em um livro de ficção. Isto não quer dizer que, mais para frente, no Ensino Médio, a opção não surgiria em testes vocacionais e feiras de profissões. Só que, provavelmente, não com o mesmo efeito de encantamento e “sabe-se lá” como o destino agiria nesta situação. Sou uma defensora ferrenha de leituras ficcionais. Acredito que, ao nos permitirmos sair das nossas áreas de domínio, adentramos terras inexploradas, realidades diferentes e criamos novas possibilidades. Ainda neste mês, destaquei em uma crônica da escritora Martha Medeiros: “compensamos nosso comodismo com livros, que são mais baratos que passagens aéreas. E, quando dá, fazemos turismo. Cada viagem de 10 dias ou de um mês é um jeito de colocar a cabeça para fora da gaiola”.



Ler é uma maneira estática de viajar e se obrigar a desbravar outros cenários. Recentemente, embarquei n’A Trança, da autora francesa Laetitia Colombani, e peregrinei entre Índia, Itália e Canadá em um mesmo conglomerado de páginas. Aprendi um pouco mais sobre as castas do país asiático, conheci a cultura da cascatura, costume siciliano que consiste em guardar cabelos para confecção de apliques ou perucas, e identifiquei que a discriminação de gênero tem dimensões diferentes em cada continente, mas segue sendo um problema até mesmo em países tão desenvolvidos como o Canadá. Ao imergirmos em uma viagem pelo mundo literário, passamos a flertar com lugares até então inimagináveis e  vontades desconhecidas, como provar uma cerveja amanteigada (alô, fãs de Harry Potter). Não à toa, uma das livrarias mais visitadas do mundo é a Lello, na cidade do Porto, em Portugal, onde dizem ter florido a inspiração de J.K. Rowling para escrever a saga do bruxo mais famoso do mundo.


Do meu ponto de vista, concordo com o ponto de vista da Martha. Há duas maneiras básicas  de fomentarmos a criatividade e empatia e ambas envolvem desapegar por alguns dias ou horas do nosso próprio mundo. A primeira é viajar literalmente, afundar o pé no desconhecido, com inseguranças, dúvidas e a vulnerabilidade necessária para aprender como funciona o território alheio. A segunda é um tanto mais lúdica, implica em desocupar a mente do fluxo pessoal e se permitir transportar para outras instâncias através das palavras e da força da imaginação. Então, se faltar tempo ou dinheiro para pegar a estrada, busque um livro como rota alternativa.



Faz bem ler para viajar.

Aproveite e assista o manifesto " Faz bem Viajar "