Não adianta dar no contra, é diferente viajar no verão. Aliás, há quem fuja para outros meridianos em busca do calor quando é inverno na própria região, mas não tem a mesma potência. Viajar no verão tem algo de desprendimento.
Malas pequenas com roupas leves e uma nécessaire, ou um carro cheio, quiçá com reboque, guarda-sóis estampados, cadeiras com areia cativa e pranchas estruturadas por cima.
Ambas as situações são de desprendimento. De quem decide andar livre e leve sol afora por algum tempo, ou de quem deixa o lar por longos dias e noites, encarando uma escapada. Viajar no verão tem um quê de parada no ciclo, libera gosto e cheiro de férias de verdade. É quando o cabelo fica embaraçado de sal, a pele ganha algumas marcas novas denunciando o exagero à exposição ao sol (as dermatologistas que me perdoem) e a gente não se preocupa muito se o sorvete escorre pelas mãos ou se a caipirinha é servida em um copo de plástico. Refrescar é prioridade.
Sol é festa, mar e piscina. Chuva é festa, carteado e maratona de séries. Vento é festa, corridinha na orla e, por que não um kite surf? A alma ganha leveza, as roupas se tornam mais coloridas e a cobrança com a dieta toma cartão vermelho, que é para podermos vestir trajes de banho sem se importar com curvas demais ou de menos. O verão é um lugar de sangue quente e barulho. Tem pagode com chope, “bombinhas” estaladas com pulos na piscina e a criançada de férias marcando presença com bola, bicicleta e gargalhadas constantes. Ah, e a paixão, que pode ter hibernado o ano inteiro, resolve marcar hora extra. Sai da toca a fim de pipocar entre corações disponíveis e desprevenidos nesta levidão da ocasião.
Na viagem da estação mais quente do ano, todo mundo vira um pouco atleta e arrisca um frescobol ou pedalada, um pouco chef de cozinha com receita de peixe e casquinha de siri e um pouco leitor, circulando com o livro embaixo do braço – mesmo que seja para embalar uma soneca na rede. Estas personalidades se tornam possíveis graças ao relógio que corre diferente, o dia amanhece mais cedo e a luz permanece até tarde. Fica uma brecha para realizar tudo aquilo que a correria da rotina anual não permite. Viajar no verão é pausa de verdade.
É aquela inspirada bem profunda com os pés descalços na areia esperando a espuma do mar lamber os dedos para arrepiar todo o corpo enquanto os olhos se fecham e os braços se abrem, como se quiséssemos abraçar o oceano.
Até quem torce o nariz para os termômetros batendo os 30ºC precisa concordar que só a viagem de verão tem o verdadeiro poder de energizar e carregar as baterias para um ano todo de desafios (sejam eles quais forem) que aponta logo ali na frente no calendário. Então, é bom relembrar que a estação mal começou e ainda há inúmeras possibilidades de umas escapulidas para perto, para longe, por pouco ou muito tempo. Vá em busca de ar e luz solar.
O inegável é: faz bem viajar no verão.